quarta-feira, 30 de julho de 2014

Gravata rosa. Pescoço de pião. Putas no asfalto. Lixo nos limites da cidade. Ponto cego. Prazeres mundanos. Chuva que lava o sangue na calçada. Criança chupando pirulito. Rosa. Pescoço de puta. Gravata nos limites. Prazeres cegos. Ponto mundano. Sangue na gravata. Chuva no lixo. Rosa de pião. Pescoço de criança. Asfalto rosa. Prazeres de criança. Puta chupando pescoço de pião. Pirulito de sangue. Calçada de prazeres. Lixo nos limites do pescoço.

domingo, 11 de maio de 2014

Valeriana mantém seus passos em linha reta com dificuldade, enquanto desliza pelo asfalto molhado. Fecha um olho para enxergar melhor e esconjura alguns deuses.
Acenderia um cigarro, se ainda tivesse algum, faria sexo, se ainda tivesse alguém, e até se sentiria feliz... se tivesse alguma... e põe-se a cantar nas intermitências das faixas brancas do meio da rua, senta no meio-fio e mija em seu destino.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

... E então a mais desprezível das criaturas
se olha no espelho e vê que uma veia carnuda ressalta
de seu bíceps e que seu bíceps não é tão desprezível assim.
De fato, seu bíceps até que era bem torneado e seus braços
eram como grandes falos pulsantes e até interessantes.
E a criatura desprezível nem era tão desprezível assim,
com sua silhueta nada monótona à luz das lâmpadas fosforescentes.
Silhuetas com curvas e declives que surpreendiam a monotonia aguada da linearidade asséptica do previsível.
A criatura desprezível, de repente, passou a não se sentir desprezível, mas desejável e consumível e, consequentemente, descartável. 
No fim, a criatura desprezível não era mais desprezível, mas descartável.
Como um louca, a criatura desprezível começa a perceber o mundo e as pessoas.
Como uma louca decepcionada, a criatura desprezível ignora o mundo e, como uma louca, ignora a criatura desprezível em si. Livre em sua prisão ignora a ignorância.