sábado, 20 de novembro de 2010

De súbito

Lembrou-se do seu pai. Lembrou-se da forma... da única forma que ele sabia expressar seu amor: com os pulsos cerrados direto no seu estômago.

O ventilador de teto sufocava seu choro com um zumbido monocórdico que começava a enlouquecê-lo. Resolveu acender um cigarro. Deu um longo trago. Terra quente sob os pés. Vento morno de verão. Expira... seriam anéis de fumaça, não fosse o vento.
Valery aparece por trás do segundo trago, explodindo em palavras. Imagens em sequência vertiginosa formavam-se em sua narrativa. Valery estava puta da vida.

sábado, 13 de novembro de 2010

Onde?

Minhas palavras se desfazem no ar seco dessa tarde ensolarada e quente, muito quente.
Minhas palavras dançam no ar, feito poeira, e seus sentidos já não fazem mais sentido.Tenho sentido o cheiro morno de sua ausência, mas só isso, no solstício de um ano qualquer, de mais uma série de meses enfileirados na linha tênue e dissonante de minhas memórias.

“Agora, o sol da tarde deita-se suavemente em suas varandas profundas; o incenso de Pot Pourri das pétalas caídas assombram a quietude”... Essas palavras ecoam em minha mente entorpecida pelo esquecimento, mas a paz bucólica da casa continua imutável. Então respiro o calor e expiro fumaça, anéis disformes que circundam a ausência de matéria. A ausência de Ma teria sido a última de suas inquietações, ou suas inquietações teriam sido a última de suas ausências. Não importa. O ar continuava morno.