quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

A cidade é um monólogo retalhado; um olhar fragmentado e caótico de uma mosca. Fractais, fragmentos, farelos, elos, eles, a sós, S.O.S em fones de ouvido.

domingo, 30 de outubro de 2011

As 250cc começavam a vibrar no asfalto, vapor de gasolina, borracha quente, vento.
O ponteiro diz: "100 km".
Meus pensamentos se materializam nas faixas amarelas

terça-feira, 23 de agosto de 2011

o começo do novo fim

“Fale sobre coisas alegres, como flores se abrindo ao toque gentil dos primeiros raios de sol”, ela diz, mas só vejo flores se abrindo em agonia entre o abraço apertado de um sol ensandecido.
Em seus olhos minha alegria se dissipa, a realidade toma de assalto meu plano de fuga e as cores voltam-se para si, mostrando seu avesso. Ar denso, quase consigo andar na poeira que sobe no vento morno que arde dentro do pulmão. Solto a fumaça e logo tudo fica dormente... mente... minto... para mim mesmo na mente e para os outros, no sorriso.
Só isso, e tudo gira ou se arrasta, não há outro modo. Deve ser por isso que sinto essa vontade louca de correr, correr até bater na parede, assim, livremente, até a parede deixar de ser parede e eu deixar de ser eu. Aí então começa tudo. O fim toma a palavra e diz: “agora que já não resta mais nada, que tal reinventarmos tudo?”. O fim está louco, mas ninguém fala nada porque, no fundo, é essa loucura que faz o começo do novo.

terça-feira, 10 de maio de 2011

Antes me amanheça

Antes me amanheça
com seus lábios entreabertos e olhar lascivo
Pelos entre pelos, doce
como o orgasmo de uma flor
Sua flor
como que coberta por um delicado orvalho
Perfume que mascaro entre a língua e os lábios

Antes me amanheça em suas coxas
e me abrace, morna e delicadamente

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

para se ir


A vida é um jogo de dados, a vida é um jogo de dados, a vida é um jogo de dados...
E segurava uma garrafa de whisky meio vazia, e segurava forte contra o peito, enquanto repetia “a vida é um jogo de dados”.
Seus olhos ardiam depois de tantas lágrimas.
A superfície estática e calma do líquido âmbar dentro da garrafa lembrava um lago calmo e convidativo no qual mergulharia até o fim.
Nem o Marlboro vermelho e nem o joãozinho vermelho o salvariam do inevitável afogamento.

sábado, 29 de janeiro de 2011

Olhos de Clarice (parte 2)

Izabella de certa forma salvara D de uma atitude drástica, talvez a mais drástica e, consequentemente, a última que ele tomaria em sua vida.

D trabalhava em um emprego ordinário e tinha uma vida ordinária. Por ser tão ordinária ele resolveu, então, por fim nela. Pensou em uma arma de fogo, um tiro direto na têmpora ou por dentro da boca, como vira nos filmes, e seria com um revolver. Até tinha onde conseguir um, baratinho, com um desses policiais corruptos que se oferecem para apagar alguém nas horas vagas. Mas pensou melhor e concluiu que o estampido do tiro ecoaria em sua morte, em sua pós existência eterna, ou, se preferir, em sua vida após a morte. Daí percebeu que se ele já não acreditava nessa vida, que sentido haveria em acreditar em uma vida após a morte?

Em todo caso, por via das dúvidas, resolveu mudar de estratégia. Cortaria os pulsos, isso, sua vida se esvaziaria aos poucos, e como achava que sua vida não era lá muita coisa, talvez fosse até rápido. Como foi que lhe falaram outro dia? “Há dois jeitos de cortar os pulsos: um é o caminho para o hospital, e o outro é o do cemitério. O do hospital era um corte na horizontal, daqueles que só os histéricos fazem; o do cemitério começa no punho e vai até onde der.” Cemitério, então. Lembrou-se que detestava cemitérios, mas não importava mais.

Esterilizou a lâmina, não sabia ao certo porque, talvez só por hábito, ou talvez porque não queria ter nenhum tétano como seqüela pós-morte. Em fim, só faltava mais uma coisa: um texto de despedida, sabe? Só para deixar algo nesse mundo e pelo menos isso ele queria fazer bem feito, como manda o figurino de um bom suicida. Exitou um pouco. Gostava de contar histórias, mas sempre teve medo de escrever, ou melhor, de ter suas coisas lidas por outra pessoa. Mas, o que importava agora a final? Não iria se preocupar mesmo com as críticas futuras.

Ao tocar no mouse a tela se desnuda de seu descanso, peixinhos ridículos nadando nos leds. Foi aí que veio sua surpresa. Havia um blog lá, um blog que ele havia acessado no momento que decidira se matar, mas que não chegara a dar atenção porque já havia tomado essa decisão drástica. Nesse momento, no entanto, algo chamou sua atenção, o nome do blog é “Réquiem para um ninguém”. Achou curioso, irônico, mas sem graça. Enfim, esquentou a lâmina, a encostou logo abaixo do punho e... não conseguiu. Aquele blog o despertara a mais profunda e intrigante curiosidade. “Que merda!”, pensou.

Era o blog de uma garota. Pelo menos achava que era uma garota, mas qualquer um podia fazer um blog e se identificar como “Izabella”. Ele mesmo já havia pensado em criar um blog sob um pseudônimo feminino, só para sacanear com os tarados virtuais.

Começou a ler as primeiras linhas:

“Sempre achei ridículo essa mania de suicídio. Que coisa mais cafona, desistir justamente quando as coisas começam a fazer sentido?! Para que servem os problemas se não para nos tirar do tédio de nossas vidas?”

D não acreditou no que estava lendo. “Mas que guriazinha mais pretensiosa! Isso se for uma guriazinha. Vai ver que é uma daquelas dondocas que não fazem nada da vida e ficam se entupindo com livros de auto-ajuda. Uma mulherzinha que já tem a vida ganha e fica aí, querendo dar uma de boa samaritana. Vagabunda.” D costumava ser mais polido com as pessoas e raramente se irritava com os outros. Mas essa ele não agüentou. Logo no momento mais frágil e decisivo de sua futura ex-vida. Resolve continuar lendo, só de pirraça:

“Prefiro mil vezes a companhia de um hipócrita a de um pretendente ao suicídio, desses com pena de si mesmos só para chamar a atenção e ser paparicado. Odeio esses fracotes!”

Ahhhh, por que, por que que ele foi continuar a ler isso? Agora D já estava tomado pelo mais puro e glorioso ódio. Podia até sentir a veia de sua têmpora (que ele havia, inclusive, pensado em explodir, minutos atrás) pulsando em extremo frenesi. “Quem é essa fulana?!”, pensou e começou a procurar o link que revelaria seu perfil. Achou e, por sorte, talvez, lá estava seu e-mail para comentários.

(continua)

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Olhos de Clarice

A mancha deixada pelo calor de sua mão ainda estava no vidro da janela, quando o ônibus já se afastava. Isabella era agora apenas um borrão no horizonte. Mais tarde se lembraria dessa imagem com detalhes imprecisos: não lembraria ao certo se seu perfume era jasmim ou lavanda, nem se seu vestido deixava seus ombros nus. Ela havia sussurrado “amor” ou apenas “dor”? A única coisa que lembrava mesmo era dos olhos dela, do jeito como olhava e falava com seus olhos.

Também não sabia, naquele momento, para onde estava realmente indo. Pegou o primeiro ônibus para o sul, para o mais distante sul que seu dinheiro poderia pagar. E foi, levando consigo seu livro favorito, uma câmera fotográfica e algumas roupas. Precisava fazer isso, precisava estancar aquele amor que o destruía por dentro e que, sabia, destruiria muito mais se ficasse. Lamentaria, algumas semanas depois, a estupidez de tal pensamento ao perceber como estava errado; que um amor como aquele não se acaba nem nos deixa esquecer o que quer que seja.

Em todo caso, ele se foi. Poderia ter pego um avião, mas seria um distanciamento demasiado rápido e temia que não houvesse tempo para seu espírito perceber que partira. Lembrou-se que havia lido em algum lugar que, em uma expedição no Peru (talvez fosse em outro canto), os nativos paravam de quando em vez na subida da montanha. Ao serem interrogados por um viajante apressado, eles responderam: “se subirmos muito rápido, nossos espíritos não terão tempo de nos acompanhar e se perderão”. Foi assim que ele decidiu ir à rodoviária e partir, como partiria muitas vezes depois de um lugar para outro. Sem destino, sem espírito, sem fim. Mas, naquele momento, era preciso ir se desfazendo daquilo, dele mesmo, aos poucos. Uma morte lenta e dolorosa, mas uma morte digna de seu amor. Se foi covarde, isso só o tempo e os motivos que contarei poderão provar o contrário.
Essa é a história de D.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

como que derrepente

Tua vulva
avulta
veludo
avulso
vai
vem
Aaaa...