quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

para se ir


A vida é um jogo de dados, a vida é um jogo de dados, a vida é um jogo de dados...
E segurava uma garrafa de whisky meio vazia, e segurava forte contra o peito, enquanto repetia “a vida é um jogo de dados”.
Seus olhos ardiam depois de tantas lágrimas.
A superfície estática e calma do líquido âmbar dentro da garrafa lembrava um lago calmo e convidativo no qual mergulharia até o fim.
Nem o Marlboro vermelho e nem o joãozinho vermelho o salvariam do inevitável afogamento.

2 comentários:

Amanda Gomes disse...

O número três está ligado à perfeição. Três vezes a mesma oração. O dado tem seis faces, um número múltiplo de três. No segundo parágrafo, um polissíndeto... Uma sensação de continuidade interdependente. Um homem que livre se prende ou que se perde? Lago, mergulho, afogamento, fim: suicídio. Talvez um suicídio metafórico por parte eu-lírico, já que a calmaria ainda está na garrafa. Ninguém se mata enquanto chora ou se mata? É necessário uma dose de coragem e resignação para chegar ao fim de sua própria vida. Já que o lago é vinculado ao whisky, o afogamento pode se referir a embriaguez.

Que bom que saiu da sua fase sintética!

S. disse...

As repetições no início vão trazendo aquele peso do "destino", do "inevitável". O mesmo serve pra estaticidade (palavra estranha) do "líquido âmbar". Os fatos se repetem, mas nada muda. Você é a mosca paralisada no líquido viscoso, você sabe o que vem depois, não pode evitá-lo. Muito forte isso.