terça-feira, 28 de janeiro de 2014

... E então a mais desprezível das criaturas
se olha no espelho e vê que uma veia carnuda ressalta
de seu bíceps e que seu bíceps não é tão desprezível assim.
De fato, seu bíceps até que era bem torneado e seus braços
eram como grandes falos pulsantes e até interessantes.
E a criatura desprezível nem era tão desprezível assim,
com sua silhueta nada monótona à luz das lâmpadas fosforescentes.
Silhuetas com curvas e declives que surpreendiam a monotonia aguada da linearidade asséptica do previsível.
A criatura desprezível, de repente, passou a não se sentir desprezível, mas desejável e consumível e, consequentemente, descartável. 
No fim, a criatura desprezível não era mais desprezível, mas descartável.
Como um louca, a criatura desprezível começa a perceber o mundo e as pessoas.
Como uma louca decepcionada, a criatura desprezível ignora o mundo e, como uma louca, ignora a criatura desprezível em si. Livre em sua prisão ignora a ignorância. 

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