Sou a máscara que os monstros usam quando querem passar despercebidos.
O que observa criaturas copulando na chuva, à noite, com um leve rubor nos lábios.
Cria alturas
Cria agruras
Cria, e aturas
Minhas asas pesam quando ando entre as criaturas,
e é esse jogo estúpido que mais gosto de jogar: me perder em seu corpo suado
Divagar entre ínfimas distâncias, destilando adjetivos.
É assim que meço a distância: em versos,
e o tempo, em melancolia.
São de palavras as minhas asas
e quando as inflo, escuto ecos, sussurros...
Sinto a língua em meus ouvidos, morna, como seu sexo,
como o que sinto quando nem a cerveja mata minha sede.
Sou um disfarce, daqueles mais óbvios, que de tão óbvios,
são bons disfarces.
Sou a máscara que os monstros usam quando querem ter com as criaturas.
Sou alguma coisa entre o aqui e o depois.
5 comentários:
"Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos" Paul Tournier. Cuidado com as máscaras, caro amigo. Um dia, pode não conseguir tirar uma delas... E ter que usá-la por toda eternidade.
Posso tentar responder sua pergunta? Entretanto, em minha garganta palavras que sufocam minha natureza, que calam e morrem, como havia de ser.
Por isso, usarei palavras de um outro alguém...
"Nossas conversas nos dão um prazer profundo e são sempre salpicadas de muito riso e, de vez em quando, de uma ou duas lágrimas. [...] Neste mundo de faladores, [...] (você) é pensador e fazedor. [...] Quando fala, dá a impressão de ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem das ideias e experiências humanas de modo diferente de todas as outras pessoas. [...] Um sujeito bastante comum e, certamente, sem nada de especial, a não ser para os que o conhecem de verdade. [...] provavelmente não o notaria na multidão, nem se sentiria incomodado sentado ao seu lado enquanto ele cochila [...] Ele consegue falar com inteligência sobre quase tudo e, apesar da força de suas convicções, (Fricção Fictícia) tem um modo gentil e respeitoso que deixa você manter as suas." YOUNG, William P. A cabana [trad. Alves Calado]. RJ: Sextante, 2008.
Gostei muito do seu comentário, mas só um detalhe: eu não uso a máscara, eu sou a própria máscara.
Achei fantástico. Parabéns!
Não vou me esquecer...
Meu comentário anterior foi influenciado por um poema, mas, se não foi naturalmente percebido, deixa morrer com o silêncio.
Máscaras remetem a mistérios e ilusões. Um jogo fantástico e irreal, surreal(?). Quem poderá saber? Um jogo, eu diria, até sedutor e, irremediavelmente, verdadeiro, se pensarmos que a máscara pode significar a liberdade de nós mesmos, de nossos próprios limites, ou, ainda, dos limites impostos por nós.
P.S. O autor desse blog está (temporariamente) morto.
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