terça-feira, 2 de março de 2010

Quem sou eu?

Sou a máscara que os monstros usam quando querem passar despercebidos.

O que observa criaturas copulando na chuva, à noite, com um leve rubor nos lábios.

Cria alturas

Cria agruras

Cria, e aturas

Minhas asas pesam quando ando entre as criaturas,

e é esse jogo estúpido que mais gosto de jogar: me perder em seu corpo suado

Divagar entre ínfimas distâncias, destilando adjetivos.

É assim que meço a distância: em versos,

e o tempo, em melancolia.

São de palavras as minhas asas

e quando as inflo, escuto ecos, sussurros...

Sinto a língua em meus ouvidos, morna, como seu sexo,

como o que sinto quando nem a cerveja mata minha sede.

Sou um disfarce, daqueles mais óbvios, que de tão óbvios,

são bons disfarces.

Sou a máscara que os monstros usam quando querem ter com as criaturas.

Sou alguma coisa entre o aqui e o depois.

5 comentários:

Amanda Gomes disse...

"Nada nos deixa tão solitários quanto nossos segredos" Paul Tournier. Cuidado com as máscaras, caro amigo. Um dia, pode não conseguir tirar uma delas... E ter que usá-la por toda eternidade.

Posso tentar responder sua pergunta? Entretanto, em minha garganta palavras que sufocam minha natureza, que calam e morrem, como havia de ser.
Por isso, usarei palavras de um outro alguém...

"Nossas conversas nos dão um prazer profundo e são sempre salpicadas de muito riso e, de vez em quando, de uma ou duas lágrimas. [...] Neste mundo de faladores, [...] (você) é pensador e fazedor. [...] Quando fala, dá a impressão de ser uma espécie de alienígena que vê a paisagem das ideias e experiências humanas de modo diferente de todas as outras pessoas. [...] Um sujeito bastante comum e, certamente, sem nada de especial, a não ser para os que o conhecem de verdade. [...] provavelmente não o notaria na multidão, nem se sentiria incomodado sentado ao seu lado enquanto ele cochila [...] Ele consegue falar com inteligência sobre quase tudo e, apesar da força de suas convicções, (Fricção Fictícia) tem um modo gentil e respeitoso que deixa você manter as suas." YOUNG, William P. A cabana [trad. Alves Calado]. RJ: Sextante, 2008.

Marcus V. disse...

Gostei muito do seu comentário, mas só um detalhe: eu não uso a máscara, eu sou a própria máscara.

Richard disse...

Achei fantástico. Parabéns!

Amanda Gomes disse...

Não vou me esquecer...
Meu comentário anterior foi influenciado por um poema, mas, se não foi naturalmente percebido, deixa morrer com o silêncio.

Máscaras remetem a mistérios e ilusões. Um jogo fantástico e irreal, surreal(?). Quem poderá saber? Um jogo, eu diria, até sedutor e, irremediavelmente, verdadeiro, se pensarmos que a máscara pode significar a liberdade de nós mesmos, de nossos próprios limites, ou, ainda, dos limites impostos por nós.

Marcus V. disse...

P.S. O autor desse blog está (temporariamente) morto.